Mala-posta
Museu das Comunicações
Num confronto directo com o espólio museológico da Fundação, Miguel Buzaglo projecta uma cópia vídeo de The Great Train Robbery (1903), de Edwin S.Porter, o primeiro filme narrativo da história do cinema sobre uma mala-posta. A película baseia-se em factos verídicos: o assalto do bando de Butch Cassidy à carruagem dos correios do comboio nº 3 da Union Pacific, fazendo rebentar o respectivo cofre forte.
A ficção cinematográfica é colocada em paralelo com factos protagonizados por Zé do Telhado, João Brandão, Gadelhas e Zé Pequeno, portuguesíssimos bandidos, que, segundo a informação museológica, constituíam um perigo para as diligências onde se transportavam as malas postais. A questão da memória, essencial quando se aborda um museu e a sua colecção, atravessa esta instalação realizada a partir de uma dupla apropriação: a de The Great Train Robbery e a do espaço onde se apresenta ao público a mala-posta. Com este trabalho, Buzaglo convoca vários tempos,várias histórias: história do cinema, história dos correios, história dos transportes, história do oeste americano, história da arte,história portuguesa dos séculos XIX e XX. Uma obra carregada de significados,que permite também constatar a substituição da realidade pelas suas encenações, sejam elas museológicas ou cinematográficas – e o cinema revela-se mesmo com uma dimensão de verdade que parece distante dos objectos expostos. “ O cinema é feito para pensar, visto que é feito para religar”, como sublinha Jean-Luc Godard.
Matéria para pensar, para religar diversos acontecimentos distantes entre si – uma espécie de prega, de “pli” -, o cinema serve a Buzaglo para sublinhar uma certa ideia de passagem do tempo, de duração.
Óscar Faria
Museu das Comunicações (Julho 2000) - Curadoria: Jurgen Bock



